Uma pessoa não é o erro que ela comete.

Eu comecei um trabalho novo recentemente, e posso considerar nesses seis meses de experiência que eu aprendi algumas coisas. Como por exemplo, as partes de um processo, as manifestações, os sujeitos envolvidos, e aprendi a passar o dia todo fora de casa sem cometer muitos erros durante o tempo entre o ônibus de ida e o de volta. Também aprendi palavras novas do português que eu não usava, como por exemplo, "outrossim", "pugna" e "pleiteava".

Aprendi que processos tem dois ou três zeros, quatro ou cinco números, traço, dois números, ponto, ano, ponto, oito, nove, número de sua comarca. Aprendi que um  número de matrícula de promotor tem quatro números, e a insignia do MP mudou pra uma logo azul há um tempo atrás. Aprendi que a parte de civil não é tão legal, mas é  que mais tem trabalho na área do nosso país.

Mas ainda não aprendi se devo levar as coisas que as pessoas me dizem tão a sério.

Atualmente, minha confiança caiu tanto que nem consigo mais contar com os dedos. Toda semana alguém me diz que cometi um erro. E as vezes falam coisas horríveis. São pessoas boas que falam coisas que até fazem sentido. Mas não sei se eu deveria ouvi-las.

Eu sou uma pessoa que escreve direitinho, que aprende as coisas e que se solta com o tempo. Mas coisas como "escrevendo assim no quinto período" me estressam. Saber que outra pessoa lá fora faria meu trabalho muito melhor, me faz sentir muito mal. Mas sério, o que fazer? Eu achava que era boa, eu me levava a sério. Foram palavras que me desestabilizaram, foram elas.

Eu era sensível no terceiro ano do ensino médio, eu era sensível no ensino fundamental, eu escrevia, ouvia músicas o dia todo, eu lia revistas, eu falava de sentimentos, eu queria ser escritora.

Eu virei uma escritora da internet, mas parei de escrever. Tenho centro e vinte mil leituras em um conto. Agora eu sou uma estagiária que escuta que escreve mal. O quanto que isso me irrita? Não sei. Mas sei que agora eu tô aqui escrevendo, pra ver se passa essa sensação ruim dentro de mim, de que eu não deveria ter ouvido algumas coisas.

 Okay, erros de concordância.

Uma reviravolta aconteceu em poucos minutos depois que eu recebi uma ligação de uma pessoa enquanto escrevia o texto.

Agora pouco uma idosa me ligou, ela estava nervosa, eu a acalmei com uma intimação que ela recebeu para comparecer aqui. Ela disse que eu era boa. O que é engraçado, como podem pessoas tão diferentes, mostrarem opiniões tão diferentes ao meu respeito, uma idosa me fala que ficou "boba de ver", outra pessoa fala "assim não dá".

Olha... Tá complicado, hein. Eu não sou o erro que cometi, eu não sou a falta de concordância em uma frase, eu sou aquilo que ninguém acredita que eu sou. Como diria Projota, sou maior do que esse mundo pensa. Neymar não é uma coluna quebrada na copa de 2014. Anderson Nunes não é uma perna quebrada na luta. Não somos os erros que cometemos. Somos a noite mal dormida pela prova. Somos a adrenalina do dia cheio. O medo de cair. Somos o quebra-cabeça que montamos e desmontamos, somos o jogo de cintura entre dois mundos. Somos a vida tripla que levamos em casa, na faculdade, na escola, na família, na igreja, somos aqueles acertos que ninguém vibra por nós, que ninguém viu.

Sou aquilo que a idosa pensou de mim quando eu terminei a ligação. Sou a pessoa que Deus escolheu pra sentar nessa cadeira. Sou o resultado dos dias de estudo de 2016. Eu sou aquilo que os críticos a minha leitura não leram pela internet, com meus pontos e virgulas.

Eu sou... "Nova e Surpreendente".


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