O Conto da Justiça
Numa
sociedade distante, a muito tempo atrás, existiam dois tipos
de pessoas... Os que se denominavam Justos e aqueles que se
denominavam Injustos.
Os
"Justos" chegavam a ser irritantes, queriam colocar a
justiça em todos os lugares, embora fossem tolerantes e
compreendessem bem o universo de cada uma as pessoas, não tinham
medo de abrir mão da paz em nome da justiça. Eram fortes e
Valentes, preferiam a morte a ver seus princípios corrompidos. De
certo que detestavam pessoas corruptas, trabalhavam na base do
diálogo, porém eram firmes: o que era certo, certo seria até o
fim. Não negociavam suas raízes, não vendiam seus sonhos, tinham
medo das batalhas, porém as enfrentavam em nome da verdade, da
moral, daquilo que era correto. Perdiam o sono com facilidade ao
lembrar que alguma coisa podia cerceá-los a liberdade de expressão
e suas constantes lutas por igualdade e... Justiça novamente.
Achavam um jeito de se intrometer em qualquer caso injusto, tinham
raiva, defendiam o mais fraco, não conseguiam se calar. A mentira
era abominável, assim como as pessoas que usavam as emoções para
maquiar a realidade.
Os
"Injustos" eram opostos as Justos, desejavam a facilidade
para seus objetivos, tinham orgulho de serem preguiçosos e impunham
com mordomia seus escudos de estupidez, julgavam-se acima da lei, do
bem e do mal. Assumiam seus defeitos e não buscavam mudá-los.
Acabaram por congelar seu amadurecimento a medida que se escondiam
atrás das falas de inércia à evolução como pessoas. Manter-se
daquela mesma forma, não discutir ideais, se orgulhar da ignorância
e se vangloriar por serem idiotas completos, entre outros, eram seus
passatempos preferidos. Riam quando eram criticados por aqueles que
queriam o bem. Viviam uma vida leve, porém, nunca cresciam. A ilusão
do crescimento deles se comparava a um balão de ar, bonito por fora,
vazio por dentro, apenas inflados por gás... Menosprezavam o esforço
alheio e constantemente se acovardavam. Mentiam sem nenhum pudor, se
orgulhavam de suas imaturidades enquanto se escondiam ao sinal de
qualquer repreensão.
Os
embates entre os dois grupos eram constantes, a justiça não se
alegra com a presença de um Injusto. Um dos defeitos da justiça é
querer consertar o mundo. Toda vez que um Justo se encontrava com um
Injusto, o conflito se iniciava. Os Justos temiam a morte, pois
estavam sempre na linha de frente. Os Injustos apenas a esperavam,
pois a vida não tem valor para aquele que não tem princípios.
Porém
os Justos nunca se cansavam. Sempre encontravam energia ao ver alguém
precisando de ajuda. Lutavam para resgatar a moral de cada um dos
Injustos. Acreditavam na humanidade.
Os
Injustos precisavam tomar uma decisão.
Resolveram
isolar-se. Fazia sentido. Criar um grupo livre do “aborrecimento",
não seriam mais necessários os constantes embaraços causados pelas
"teorias irritantes" da justiça. O que parecia ideia
maluca acabou por ser realidade.
Construíram
um muro.
Do
lado de dentro, só os Injustos podiam ficar. Não era admitida a
entrada de nenhum Justo. A construção era imponente, assustava até
o mais corajoso dos Justos, que acabaram por respeitar a liberdade de
isolamento, mesmo sem concordar, afinal, o respeito é necessário,
fazendo parte do princípio basilar do manifesto dos Justos.
Gerações
vieram e se foram, os Injustos continuavam pregando sua injustiça
com seu meio de viver, as batalhas acabaram. Os Justos continuavam
amando a verdade, dessa vez, mais calmos, pois não havia pelo quê
brigar. A justiça era plena.
Porém,
um dia, a consciência da nova geração dos Justos começou a pesar.
Um dos líderes da nova geração dos Justos, um simples garoto,
começava a questionar: Por que os Injustos não haveriam de ter o
direito a justiça? E se houvesse em uma nova geração dos Injustos,
o desejo por algo novo? Por que um muro os separava? O que havia de
tão repulsivo do outro lado?
A
vontade de lutar e de trazer as boas notícias os consumia, os Justos
já não conseguiam se manter calados. Os Injustos mereciam pelo
menos mais uma chance de conhecer a justiça. Chegaram a decisão:
Invadiriam o espaço da injustiça, mostrariam mais uma vez a beleza
de lutar pelo mundo mais correto. Se fossem rejeitados, se
retirariam, respeitando o direito de cada grupo.
Sucedeu-se
que no dia definido, os mais importantes líderes dos Justos,
inteligentes e corajosos, se prontificaram a importante missão de
desbravar o terreno dos Injustos. O obstáculo? O Muro. Com bravura,
escalaram a grande construção, como sempre diziam, arriscando suas
vidas para promover aquilo que era certo. Sob toda atenção da
multidão dos Justos, subiram...
E
ao chegarem ao topo, sob olhares esperançosos e curiosos. E…
Pararam.
Os
líderes, ao avistar ambos os terrenos abaixo deles, não sabiam mais
o que fazer. Sentiram medo. No meio dos mundos, separados por
gerações, não sabiam mais pelo que lutar. A coragem dos líderes
se foi a medida que os Injustos os avistaram e se aglomeravam,
temendo o encontro com aquilo que rejeitavam. Naquele momento, os
líderes decidiram parar de lutar. Não havia razão para lutar pelo
bem se ali em cima estavam seguros, sob uma boa posição, isentos
das responsabilidades de Justos, sem a culpa da irresponsabilidade
dos Injustos, acima do bem e do mal.
O
que se ouviu em seguida foi um grande grito vitorioso do outro lado
do muro, do lado do povo Injusto. Os líderes estavam estasiados com
os aplausos e ovações, julgavam-se superiores, não era necessário
tomar um partido, escolher um lado e lutar pelo que era certo.
Bastava ficar ali em cima, e estariam livres.
Porém,
esqueceram do principal. Ao conhecer a injustiça e não lutar contra
ela, tornaram-se parte do povo Injusto. O muro havia sido construído
pelo povo Injusto. Parar ali em cima era trair a justiça. Os líderes
perderam todo o respeito dos Justos, e pior… Começaram de lá de
cima a se vangloriar de seu erro, assim como os Injustos faziam.
Embora se achassem seguros e acima do bem e do mal, o povo Injusto
não tinha compromisso com a lealdade. O respeito dos líderes acabou
por terminar-se antes do esperado do outro lado também. Sem
perceber, até o fim de suas curtas vidas , foram considerados e
enterrados como parte do povo Injusto. Suas ilusões de grandeza se
assemelhavam com as do povo Injusto, como balões de gás. Não eram
superiores a ambos os povos, eram inferiores ao mais inconsequente
dos Injustos, pois até este não sabia o que fazia.
Ser
isento não significa ser superior. Ao conhecer ambos os lados e não
escolher o lado certo, você também torna-se um Injusto.
Isso
se repete desde o Jardim do Édem. Adão e Eva não conheciam o
pecado. Quando o conheceram, tiveram de lutar contra ele, caso não o
fizessem, estariam pecando. Desde o começo da humanidade, precisamos
fazer a escolha, entre o bem e o mal. Não fazer a escolha do bem,
significa pertencer ao lado do mal. Não existe meio termo, o muro é
propriedade inimiga. Deus não aceita metades das justiças, meios
arrependimentos, muito menos a falta de coragem. Lute pelo que é
certo.
Para
que nesses novos tempos, que nosso único lamento seja Meus
heróis morreram de overdose, e os meus inimigos estão no poder. Mas
que jamais precisemos cantar E aquele garoto que iria mudar o
mundo, agora assiste a tudo, em cima do muro...
Escolha seu lado.
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