Crônica de 20 de Novembro...
O Reino das Máscaras Azuis
Era uma vez um lugar onde todo mundo
usava máscara azul. Em todos os lugares que iam, as pessoas usavam máscaras
azuis. Por todos os lados, só se viam máscaras azuis. O mundo era feito pelas
pessoas com máscaras azuis. E não havia alguém que não gostasse das máscaras azuis.
Um país inteiro de máscaras azuis, governado por um rei de Máscara Azul.
Mas então, surge a notícia. Haviam pessoas, que usavam
a máscara vermelha! Era impossível! Surgiram várias teorias dos homens de
máscaras azuis. Diziam que os de máscara vermelha eram os filhos de Caim, a
geração amaldiçoada por Deus. E por isso, interpretaram com a religião. Dizendo
que os de máscara vermelha deveriam ser escravizados. Simplesmente porque
usavam as máscaras vermelhas. Senhoras e senhores de máscara vermelha, esses
deveriam ser forçados a trabalhar, vendidos como objetos.
A situação ficou muito complicada para os Máscaras Vermelhas. Até que um dia, depois de muita pressão, os Máscaras vermelhas
conseguiram sua liberdade. Mas não totalmente, ainda estavam presos as correntes do
preconceito com a cor das suas máscaras. As pessoas olhavam torto, não
confiavam em quem usava máscara vermelha. Eram tratados como inferiores, e
mesmo depois da liberdade das máscaras vermelhas, as coisas não eram iguais.
Não existia um meio termo, ou você era um máscara azul e era superior, ou era
um máscara vermelha, e era inferior.
Era impossível trocar de máscaras, mas as pessoas começaram a
fazer o possível para se parecer com máscaras azuis. Deixaram suas religiões
antigas, deixaram seus antigos costumes de lado e acabaram sendo sufocados
pelos máscaras azuis! Ser um máscara Azul era sinônimo de ser perfeito, sendo
assim, pra que usar uma máscara vermelha? Então, mesmo sem perceber, a cultura
da máscara vermelha foi desaparecendo.
Mas então, surgiram algumas
pessoas diferentes. Elas não tinham vergonha de usar a máscara vermelha
"inferior". Para elas não havia diferença. Essas pessoas lutaram para
que as coisas fossem diferentes. Queriam ser tratados iguais. Para elas, não
importava a cor da sua máscara, sua religião, ou qualquer coisa, somente o que
você era por dentro. O orgulho das máscaras vermelhas surgiu, e com eles,
direitos para máscaras vermelhas. Conseguiram, depois de muita luta, que
algumas coisas mudassem. Eles foram guerreiros.
Eles ganharam um dia da máscara vermelha, ganharam leis que
punissem quem os discriminasse pela cor de suas máscaras, ganharam cotas nas
faculdades, ganharam direitos, e na teoria, todos seriam tratados iguais. O presidente de um dos países mais
importantes usava uma Máscara Vermelha. Os máscaras vermelhas se tornaram
metade da população.
Tem um pequeno problema com
o dia da Máscara vermelha. Ele é um só. Seria mais fácil ter 365
dias de igualdade, sem preconceito, do que um único dia de Consciência da
Máscara Vermelha. Não importa a cor da sua Máscara, o que importa, é a cor da
sua alma. Uma máscara é uma coisa tão superficial, certo? Assim como a cor da
pele. Algo tão superficial... Por que ainda é tão difícil entender que uma cota
não é um preconceito, é o pagamento de uma dívida? Por que é tão difícil entender
que o estilo do seu cabelo é irrelevante? Se é estranho ser preconceituoso com
alguém pela cor da sua máscara, é estranho também ser preconceituoso com a cor
da pele.
Por Letícia Brum
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